2.10.18

Baby's First Pride



    Já que eu quero me meter a escritora, no primeiro (?) post do mês de outubro, farei um textão sobre minha última aventura no mês de setembro: a ida, escondida, à Parada LGBTI do Rio. Daria um livro, na verdade, porque teve drama, teve momentos felizes, teve aquelas partes que a gente teve vontade de dar um soco em algum personagem e mesmo aquela parte que dá vontade de desistir de ler.

   Vamos começar pelo começo: por que ir escondida? Minha família, infelizmente, ainda tem muito preconceito. Claro que na hora que você confronta eles vão dizer "nãaaao, imagina, tenho vários amigos gays", e essa fala quase sempre vem seguida de um "só que tem que respeitar". Só que uma coisa é meus amigos virem aqui em casa - o que atualmente é quase impossível porque minha mãe tem treta com uma e eu não me sinto confortável chamando os outros se um não é bem vindo - e nós dançarmos e nos banharmos de glitter. Outra coisa é uma passeata com um monte de gente bem resolvida com gente dançando e banhada de glitter. Pra minha família, a primeira situação pode até ser OK, mas a segunda já é falta de respeito. Aparentemente o respeito é se manter no armário, que é o que estou fazendo - e o motivo pelo qual eu estou tão incomodada com minha vida.

    Primeira questão explicada, vamos ao resto da história. 

    Eu e meus amigos já estávamos planejando a ida a algumas semanas, e inicialmente eu planejava contar pelo menos pra minha mãe, porque acredito que ela teria uma reação OK, mas os dias foram passando e eu vi que não teria escolha a não ser ir escondida. Meu plano? Dizer que ia encontrar uma amiga que já não via a anos no centro da cidade porque ela não teve como vir no meu aniversário. E como ela ia comigo na Parada, eu consegui ser bem convincente. Combinamos horários, transportes... Tava tudo certo. Mas aí tive um pequeno contratempo na manhã de domingo porque meu banheiro não tá com água quente e eu teria que tomar banho no banheiro da minha mãe. E tive que esperar ela acordar pra fazê-lo. Crise. Surto. Karatê.

    De banho tomado, fui atualizando minhas amigas das reviravoltas dessa novela das 9 (da manhã) enquanto tentava fazer o mínimo de maquiagem possível - porque meu rosto tá provavelmente desenvolvendo alguma alergia aos meus pinceis e eu preciso trocá-los o mais rápido que der. Assim que fiquei pronta, revisei minha lista de coisas pra levar e fui.

    Esse entrou pro Top 5 de melhores dias da minha vida. Só está atrás dos shows da Adore, da Bob e também do meu aniversário de 20 anos.

    O dia em si já valeu por eu estar com minhas amigas, mas eu amei ver tantas outras pessoas na rua pra não apenas celebrar serem quem são, mas também lutando pela manutenção dos direitos que já conseguimos e pela conquista de muitos outros que ainda nos faltam.

    Claro que tiveram partes que me bugaram, tipo a quantidade de homem hétero cis passando pela Parada e sendo escroto com as meninas (e imagino que tenham sido com outras pessoas também, mas com as meninas eu testemunhei porque né, eu tava no meio), um cara querendo roubar o celular de uma das meninas do meu grupo no meio da muvuca e o pessoal dançando Anitta, Jojo e Nego do Borel mesmo depois de todos os textinhos militei no twitter e nos grupos do facebook. Fiquei puta? Claro. Mas fingi, né. Assim como fingi pra minha mãe que tinha ido no museu. Acontece.

    Já quero ir ano que vem de novo, e de preferência sem me esconder porque meu celular tá cheio de fotos lindas que eu nem vou poder postar sem sem ser no twitter porque infelizmente tenho parentes fofoqueiros e bloqueá-los nem é uma opção válida, já que quando eles tem problema COMIGO, eles esquecem que já sou adulta e vão reclamar com minha mãe.

    "Ah, Luisa, mas tá meio incoerente você falar que foi escondida e que não pode postar as fotos por causa da sua família mas fazer um textão super detalhado e com uma foto sua enorme de capa no blog, onde qualquer um pode ler". Pois é, mas minha família não lê o blog. Felizmente, ter seus sonhos ignorados, vistos como hobby ou não levados a sério tem suas delícias. E essa é uma delas.

    Agora me desejem forças porque não sei quando vou parar de fazer hora extra nesse armário e eu já não aguento mais a poeira.

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