20.9.18

Anitta, posicionamento e, de novo, a polêmica do Pink Money


    Esse é mais um daqueles posts do blog que nunca nem entrou no planejamento oficial de postagens, mas devido a todo o bafafá sobre essa história, acho que merece um lugarzinho de destaque aqui.

    Ano passado, durante o BEDA, publiquei um textão aqui falando sobre o pop do discurso de ódio que muita gente atribui a Taylor Swift e seus shades em clipes. Não sei bem porque tô usando esse post para contextualizar, mas acho que é pelo fato de tanto a Taylor quanto a Anitta serem cantoras pop de sucesso estrondoso e adoradas por certa parte do público LGBT.

    Essa terça, no dia que tenho dedicado a fazer os meus textos, publiquei minha breve reflexão sobre as eleições deste ano e como as possibilidades e a situação toda, na verdade, está um pouco caótica. Esse post você pode conferir aqui.

     Vamos agora ao assunto que trataremos aqui. No texto das eleições, eu cito um grupo de mulheres que se reuniram para mostrar que estão contra um determinado candidato a presidência (cujo nome não será citado por motivos de #EleNão), que foi hackeado por apoiadores desse candidato e causou um alvoroço. Bem, esse não era o único grupo de pessoas contrárias ao candidato, mas foi o pioneiro. Depois das mulheres unidas contra, outras minorias, como negros e LGBTs, criaram grupos para mostrar seu desprezo a esse cidadão e articular não só formas de protesto, mas também se organizar para derrotar o candidato nas urnas.

    Foi no grupo dos LGBTs que tudo começou. Esse ano, a questão do Pink Money foi amplamente debatida, então os participantes do grupo resolveram que cobrariam um posicionamento político de figuras públicas e marcas que tem uma certa popularidade entre a comunidade LGBTQ+ e ver quem são de fato os aliados e quem só levanta a bandeira se for receber por isso. Uma das pessoas que seria cobrada era Anitta, cantora que já se apresentou diversas vezes em Paradas do Orgulho e é vista como rainha por muitos LGBTs.

    Anitta não tinha se posicionado mesmo com a pressão dos fãs, mas ontem foi duramente criticada por seguir uma conta que apoiava o candidato. Assim, ela acabou dando uma declaração sobre o voto ser secreto e que "ela não precisava se posicionar". Pra que? Foi mais criticada ainda. Fã clubes da cantora nas redes sociais repudiavam a atitude e até desativavam contas, além de responder seus stories e tweets dizendo que "se manter neutra", nessa situação, era se posicionar a favor do candidato. E Anitta, querendo dar uma de esperta, respondeu que não tinha essa, que ela, mesmo feminista e parte da comunidade LGBTQ+, não se via na obrigação de se posicionar e que isso não significava que ela queria a morte desses grupos, pois aquilo também significaria a morte dela.

     Olha, eu não tô aqui pra ser fiscal da sexualidade de ninguém, mas acho uma forma bem infeliz de se assumir, se era isso que ela estava tentando fazer. Se ela é parte da comunidade LGBTQ+ ou não - sendo bi, pan, queer, simpatizante ou o que for -, isso não me diz respeito. Mas é muito curioso jogar essa cartada na mesa porque os seus fãs, que fazem parte dessa comunidade, estão ofendidos com uma atitude sua. Pra mim é quase como toda aquela história da J.K. Rowling cada dia inventar um personagem diferente de alguma minoria no universo de Harry Potter, mesmo anos depois da finalização da saga, só para dizer que Hogwarts não estava cheio de brancos, héteros, cis e lá vai fumaça e assim criar uma identificação com leitores em potencial que possam consumir seus produtos. Essa identificação NUNCA EXISTIU, mas é fabricada para que nós pensemos que essas pessoas estão do nosso lado e por isso podemos ler seus livros ou ouvir suas músicas sem peso na consciência.

    Outra coisa que me incomoda vem da parte das pessoas que começaram a chamá-la de "bissexual de taubaté" só porque em 2013 ela disse que era hétero. Não estou dizendo que acredito nessa história de ela não ser, mas esse comportamento é desrespeitoso demais com pessoas que são parte da comunidade. Em 2013 até eu achava que era hétero. Muita gente só foi se descobrir LGBTQ+ de uns tempos pra cá. E ainda tem aqueles que, mesmo sabendo que não são héteros, afirmam que são porque não se sentem confortáveis - ou seguros - o suficiente pra se assumir. E depois querem postar coisa de Setembro Amarelo... Me poupem.

    Gente, se posicionar é importante e ser neutro é também uma posição. Ainda mais levando em conta que esse candidato inominável é uma terrível ameaça ao povo brasileiro, basta olhar a quantidade de grupos que se colocam contra ele, que repudiam suas ideias e sua candidatura. Se você vê alguém ameaçando ou mesmo agredindo alguém que você ama, você fica parado ou faz alguma coisa? Ficar parado é como dar um selo de aprovação a esse ataque. Se você realmente sente algo por aquela vítima, se ela tem algum valor pra você, você vai fazer algo pra parar essa ameaça ou agressão. Você se mete na briga ou busca ajuda. Você não deixa que a pessoa, que provavelmente já está ferida, fique ainda mais. Por isso que é importante um posicionamento. Se você, ídolo de milhões, resolve ficar neutro quando vê gente que te admira sendo atacada ou ameaçada, você não aprecia o carinho dessas pessoas, a admiração delas pelo seu trabalho. Você só está ali pelo dinheiro.

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