19.5.16

Charme e elegância?

 Desde muito pequenas, nos empurram um padrão. Vestidos bufantes, maquiagem, joias, sapatos, tudo cor-de-rosa. O máximo que podemos esperar na vida? Um marido rico, lindo e inteligente que vai nos bancar e nos amar eternamente.

 De repente vemos mulheres trabalhando nas obras.Vemos advogadas, astronautas, juízas, engenheiras, médicas, bombeiras, policiais, caminhoneiras, executivas. Vemos deputadas, vereadoras. Tem mulheres até na presidência! Princesas indefesas? Não mais. Elas podem até ter um príncipe encantado, mas se recusam a depender deles. Exceto talvez pela Aurora, mas ela foi amaldiçoada para dormir, então não havia muito o que fazer.


 Apesar de tantos avanços, ainda estamos bem para trás no quesito equidade. Ainda somos julgadas se andarmos com roupas curtas e pêlos, ainda somos culpadas caso algo de ruim nos aconteça. Ainda somos acusadas de provocar situações que só são negativas para nós. Mas parece que não é suficiente para eles. Nunca é suficiente. 

 Pois então, sofremos um golpe. Uma presidenta foi afastada não por ter cometido crimes, mas por ter despertado a antipatia daqueles que não aceitam os avanços da Mulher (sim, com M maiúsculo para representar a união de todas nós), já que os mesmos erros que ela cometeu, homens cometeram antes e não sofreram com isso. O governo interino não inclui, entre outras "minorias" (uso entre aspas porque apesar de receber esse nome, as chamadas minorias são maioria na população), mulheres. E depois de muitas críticas, o presidente em exercício vem tentando corrigir de má vontade, como um adolescente que leva bronca dos pais e não faz questão de consertar seus erros.

 Estamos em 2016. Vemos mulheres fazendo todo tipo de trabalho, estudando todo tipo de ciência, realizando todo tipo de atividade. Ainda assim, uma presidenta que apesar de não governar bem demonstrava preocupação com seu país é vista como criminosa e incapaz. O modelo de mulher a ser seguido na política não é a presidenta, a senadora, a deputada, a prefeita, a vereadora, a governadora. É sempre a primeira-dama. A esposa do político. É aquela que poderia alcançar o que quisesse, mas é ofuscada pelo marido.

 Não me entendam mal, eu não odeio as primeiras-damas nem as esposas dos outros políticos, sequer as conheço para ter alguma opinião sobre elas. Mas me entristece saber que essas mulheres podem fazer coisas extraordinárias que podem nunca chegar a conhecimento geral simplesmente por serem mulheres. Que é raro que sejam tratadas como indivíduos e não como apenas a esposa de alguém. E que essa omissão é o modelo que somos incentivadas a seguir: ser apenas a esposa de alguém. Ser bela, recatada e do lar. Ser charmosa e elegante.

 Bem, talvez eu não queira ser apenas bela, recatada e do lar. Não quero ser apenas charmosa e elegante. Eu sou inteligente. Sou forte. Eu posso fazer qualquer coisa que quiser se me empenhar. Não dependo de um homem para ser feliz ou ter visibilidade. Não dependo de um marido para me levar para algum lugar, afinal marido não é meio de transporte para me levar aos lugares. E todas as outras mulheres também.

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