8.2.21

Pensando alto aqui... sobre a bifobia no BBB

     Eu me lembro claramente desse dia... Estava num grupo de facebook falando sobre RuPaul's Drag Race, que todo mundo sabe que é um dos meus programas favoritos. Um membro, provavelmente por curiosidade, fez um post perguntando se já tinha alguma drag bissexual que passou pelo programa. Vários comentários surgiram, alguns deles realmente ajudando a pessoa que perguntou, com respostas e evidências, outros ironizando a bissexualidade e repetindo agressões que já tinha ouvido em outros momentos: "bi nem existe", "é só uma fase". Já que grupos tem regras e uma delas é não propagar nenhum tipo de preconceito, fiz uma denúncia aos administradores por ver bifobia, mas quando eu achava que seria acolhida e teria minha denúncia acatada, só sofri mais ataques. Ataques inclusive daqueles que deveriam manter o grupo organizado e a convivência pacífica.

    Bem, esse é o primeiro - e espero que não seja o único - post no blog do ano de 2021. Tá vindo por aí muita coisa boa: TNT Drag, Batalha de Lipsync, Corrida das Blogueiras, comeback do LOONA... E o que não couber no canal, certamente tem espaço aqui. Mas vamos começar o ano falando de bifobia. Não exclusivamente ela, mas principalmente.

    Essa história que contei foi lá por 2019, 2018, já faz um tempinho. Naquela época, mesmo sabendo que sou bi e tendo compartilhado várias vezes tanto aqui no blog quanto no canal, twitter, instagram e na festa toda, eu ainda não era exatamente a pessoa mais aberta no facebook e pra minha família. Hoje em dia, mesmo que eu nunca tenha "saído do armário" pra eles, feito post me assumindo ou a festinha de chá revelação que eu queria, já falo mais abertamente sobre isso na rede que eles mais usam. Namoro uma mulher incrível (no sentido literal, porque as vezes nem eu acredito que tenho essa deusa do meu lado), tô bem feliz e tava vivendo uma vida muito tranquila... Isso até começar o BBB e minha paz se esvair de vez.

    Não bastou toda a pressão psicológica e a criação de um universo que não condiz com a realidade por parte de alguns participantes, algo que já estava me deixando possessa - mas que serviu pra mostrar que nem sempre a pessoa realmente se importa com as causas que diz defender, que militantes as vezes podem se apropriar de seu ativismo e fazê-lo de forma narcisista, e que nem todo mundo que tem o mesmo posicionamento político ou pertence aos mesmos locais de fala que a gente é bonzinho. Tinha que ter algo a mais. E esse algo a mais aconteceu na madrugada de sábado para domingo.

    Era uma festa, e os 19 que estão nesse programa são os únicos privilegiados que podem aproveitar festas com segurança (não importa o que a organização da sua baladinha favorita diga, colega, ainda é mais seguro você ficar em casa). Aí o Lucas, que já tava sendo perseguido pela casa inteira por ter bebido demais e falado algumas merdas na festa da semana anterior, sentou pra conversar com o Gilberto e se assumiu bissexual ali. Não só conversaram como trocaram um beijaço no meio da festa. E o que era pra ser apenas um momento de carinho entre dois homens, virou uma discussão ridícula que culminou na desistência de Lucas.

    Enquanto algumas pessoas agiram com naturalidade (ou o máximo de naturalidade que conseguem ter ao presenciar um beijo de dois homens), outras rapidamente fizeram comentários questionando o ato. Disseram que era estratégia, que era mentira, que o menino nunca falou que era bi, portanto só poderia estar se fazendo. Esses comentários me lembraram muito a história que contei no primeiro parágrafo, mas também outras coisas que fui ouvindo ao longo da minha vida desde que me percebi em 2016. Coisas que aposto que outras pessoas bi, ou mesmo pan, também ouvem com frequência. E eu me senti machucada, junto com Lucas e Gil.

    Temos que lembrar que o comentário não era apenas bifóbico, porque não somente invalidava a bissexualidade do Lucas. Também tinha um ponto homofóbico e de ataque pessoal ao Gil, como que dizendo que ele não era digno de receber afeto, de ser beijado, de ser desejado, que só poderia ser por estratégia. E também vale lembrar que o Lucas não era o único bi da casa, que também conta com Pocah e Karol, duas das pessoas que questionaram a sexualidade dele. E os 4 citados também não são os únicos LGBT da casa, já que temos Lumena, uma mulher lésbica, e João, outro homem gay. E ainda assim, de seis pessoas, das quatro que não estavam envolvidas no beijo, três apontaram o dedo, ridicularizaram, invalidaram. O quarto nem se posicionou. A situação deixou Lucas tão mal que ele pediu pra sair, chorando porque não seria aceito em casa, na sua comunidade, entre seus familiares e amigos. Felizmente, ele foi muito bem recebido assim que sua desistência foi confirmada.

    E é isso que a gente ouve todos os dias: que não existimos, que é uma fase, que BIFOBIA NÃO EXISTE, e outras agressões. Mesmo que bissexualidade e pansexualidade não sejam a mesma coisa, acredito que as pessoas pan também passem por isso. Não somos acolhidos pelos héteros cis, não somos acolhidos pela comunidade... É sempre um nós por nós. Eu sei que muitos comentários desses vem por falta de informação ou por ignorância, mas muitos vem por maldade também. Inclusive, uma das coisas desse acontecido do BBB que mais me marcou, foi ver a Pocah, que é uma mulher bi assumida, agindo de forma bifóbica com o Lucas. E por isso a gente também precisa falar sobre alguns dos nossos que parecem agentes do caos, tratando uns aos outros mal só pra ganhar biscoito e ser chaveiro de mono (aqui se incluem tanto pessoas hétero quanto homossexuais). A gente não precisa seguir um "modelo de conduta" pra ser aceito, assim como os homo não precisam pra serem aceitos pelos héteros, assim como as pessoas trans também não deveriam precisar pra serem aceites por pessoas cis. Tudo vai mudar quando TODOS se derem conta disso.

    Bem, por hoje é isso. Despejei tudo que precisava. Espero que esse texto chegue nas pessoas certas e toque no coração, que leve a reflexão. Até breve!

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